sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A Fórmula-1 e quem a vê

Porque será que muitos tem a impressão de a Fórmula-1 ser um esporte chato (e difícil) de assistir?
Será que as transmissões tem alguma influência sobre isso?
A fama de azarento e os julgamentos feitos sobre Rubens Barrichello não teria alguma relação com isso?

Um post, muito legal por sinal, no Blog do Capelli aborda de forma muito interessante tudo isso. Ele está reproduzido logo abaixo:

"Flavio Gomes fez anteontem, em seu blog, um post que considero definitivo sobre a influência da transmissão da Fórmula 1 para o Brasil no modo como a população julga Rubens Barrichello e se relaciona com ele.

Mas acredito que, além dos argumentos muito bem pontuados pelo Flavio, ainda existe um viés por trás disso. Por mais que as transmissões da TV Globo deixem muito a desejar, que existam omissões graves do que acontece na pista em prol da “torcida pelo Brasil-sil-sil”, as próprias características das corridas da era do reabastecimento na Fórmula 1 é que acabam tornando as coisas mais complicadas para o telespectador. A F1 dos pit stops virou uma categoria para “iniciados”.

Diferentemente de esportes mais populares, como o futebol, uma transmissão de corrida de Fórmula 1 não é autoexplicativa. Tudo o que acontece na tela precisa ser interpretado, sob pena do telespectador não compreender o que se passa. Você só consegue entender bem o que está acontecendo na corrida e seus prováveis desdobramentos se entende a diferença entre os pneus, se compreende o comportamento de um carro conforme a estratégia de combustível, se possui os pesos dos carros quando da largada, se tem o live timing da FIA à mão para acompanhar os tempos de volta. Se ninguém lhe passa essas informações, ou se passa incorretamente, você fica vendido.

Fora os acontecimentos do GP do Brasil citado pelo Flavio, o GP de Cingapura é outro exemplo notável do problema de compreensão. Na narração global, tudo o que acontecia era “bom para Barrichello”, quando nem sempre o era. E, no decorrer da prova, ninguém na transmissão deu-se conta que o brasileiro voltaria dos boxes atrás de Jenson Button, mesmo que não tivesse perdido os tais cinco segundos no pit stop. Estava na cara que ia acontecer, quem tinha o live timing oficial já sabia, mas ninguém da Globo viu.

Se isso é feito de propósito para segurar a audiência, é outra discussão. Mas o fato é que tal comportamento acaba gerando na população que não consegue entender detalhadamente a dinâmica de uma corrida a impressão de que o Barrichello “de repente” fica lento, ou que “dá azar”. Até pessoas geralmente bem informadas, como Marcelo Tas, começam a formular conceitos em cima de informações que não são reais. Atualmente, a leitura de uma corrida é muito complicada. E se você não for um “iniciado”, dança.

Felizmente, no ano que vem o reabastecimento acaba. E acredito que isso tornará a compreensão da corrida muito mais fácil. Quem está na frente estará realmente na frente, no máximo poderá perder ou ganhar alguns segundos de acordo com o comportamento do carro com o tipo de pneus, mas dificilmente voltará a acontecer aquela situação do piloto estar em primeiro, acabar em quinto e ninguém entender bem o motivo.

Todo mundo vai classificar com o carro leve, então o pole será realmente o piloto mais rápido e não mais aquele com a estratégia mais ousada. Todo mundo vai largar com o mesmo peso de combustível, então não haverá mais uma diferença brutal de performance entre carros em momentos da prova. E nesse novo mundo, quem sabe, o sonho de muito telespectador de assistir uma corrida inteira no “mute” poderá se realizar."

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